Você sabia que a música tem um efeito poderoso no cérebro humano? Além de ser uma terapia, cantar, tocar um instrumento ou simplesmente ouvir uma canção ativa várias áreas do cérebro que controlam a fala, o movimento, a memória e a emoção. Ou seja, a música pode surpreendentemente aumentar a massa cerebral, o que pode ajudar o cérebro a se reparar. Estudos mostram que, para pessoas com Alzheimer, a música pode desencadear uma reação, ajudando os pacientes a acessar memórias que antes eram perdidas. Pacientes que sofreram danos cerebrais podem cantar uma música quando ela é tocada.
Em muitos estudos que aplicaram a musicoterapia e métodos terapêuticos de sugestionamento, observou-se que a ansiedade pré-cirúrgica diminuiu, ocorreu um efeito sedativo no período perioperatório. Além dos efeitos ansiolíticos e sedativos, essa terapia encurtou a duração da recuperação pós-operatória e reduziu a necessidade de analgesia. Além disso, tem sido relatado que ouvir música reduz a necessidade de fármacos sedativos e melhora a satisfação em pacientes submetidos à anestesia regional. Em alguns estudos feitos em pacientes sob anestesia geral, concluiu-se que a música e as terapias de sugestionamento têm efeitos positivos na recuperação pós-operatória e no consumo de analgésicos.
Experiências musicais
Inicialmente é necessário diferenciar “musicoterapia” de “medicina musical”. A musicoterapia é a intervenção por musicoterapeuta treinado e que pressupõe a presença de processo terapêutico e terapias personalizadas e direcionadas para a doença do paciente. Um bom exemplo é o uso da música como aliada no tratamento de crianças com Transtorno do Espectro Autista.

De acordo com Liana Azi, professora-adjunta da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a definição brasileira de musicoterapia é um campo de conhecimento que estuda os efeitos da música e da utilização de experiências musicais, resultantes do encontro entre a musicoterapeuta e as pessoas assistidas. O musicoterapeuta é o profissional habilitado a exercer a profissão no Brasil. Deve ter nível superior ou especialização, com formação reconhecida pelo MEC, e com registro em seu órgão de representação de categoria.
Já para utilizar a música como terapia adjuvante no intraoperatório, não é necessária nenhuma formação específica, visto que o próprio paciente pode escolher as músicas de sua preferência ou o anestesiologista pode utilizar uma seleção pré-escolhida de músicas. Ouvir música gera prazer sensorial, aumenta o relaxamento, revitaliza pensamentos e inspira a criatividade. Seu uso durante procedimentos cirúrgicos está associado a menor dor, menor necessidade de suplementação de sedativos e menor estresse. Para tanto, é preferível que as músicas selecionadas sejam pré-gravadas, tenham uma frequência entre 60 e 80 beats e um volume de até 55 decibéis.
“Medicina alternativa descreve práticas que visam alcançar efeitos médicos curativos, mas que precisam de plausibilidade biológica. O uso da música não é uma medicina alternativa, e sim uma terapia não farmacológica complementar, como o são a acupuntura, a hipnose e a realidade virtual, também utilizadas com sucesso no período intraoperatório”, diz Liana.
Diminuição do uso de analgésicos
Intervenções não farmacológicas, como musicoterapia, redução de ruído, promoção do sono e relaxamento, por exemplo, podem reduzir a necessidade total de sedativos e analgésicos e os efeitos colaterais associados a eles, e têm sido recomendadas por diretrizes internacionais de sedação. Todavia nenhuma das diretrizes declara como essas intervenções devem ser realizadas.
“Isso significa que os médicos podem usar doses menores de sedativos ou até dispensar a utilização de alguns medicamentos — que podem ser especialmente severos em pacientes mais jovens”, finaliza Liana.