A Organização Mundial da Saúde (OMS) define como pilares do bem-estar a saúde física, mental, espiritual e social. “Equilibrar esses aspectos na nossa vida é essencial para a saúde geral. É claro que não precisamos ter dedicação máxima a todos os pontos o tempo todo. Mas se ocorrer um desequilíbrio importante, isso pode desencadear problemas e doenças físicas e mentais”, afirma Carla Montenegro, profissional de educação física do Hospital Israelita Albert Einstein.
Doutora em Ciências da Saúde, Carla explica que o nosso sistema é programado para estar em harmonia e, sempre que há um desequilíbrio nos pilares do bem-estar, pode haver um reflexo na fisiologia, no sistema imunológico, deixando o organismo mais suscetível a algum processo de infecção, lesão e até mesmo mutação celular, que é o que desencadeia o câncer.
Entre as muitas consequências, a covid-19 trouxe a insegurança e o medo da contaminação e da morte. “Ficamos muito perto da morte. Todo mundo conhece colegas, amigos ou parentes que foram contaminados. Muitos perderam alguém por conta da pandemia. Isso faz a gente pensar no que estamos fazendo com a nossa vida. Estamos cuidando da saúde e do bem-estar?”, questiona Carla.
Para os profissionais de saúde esse impacto foi ainda mais forte, já que muitos estavam na linha de frente num ritmo extenuante ou pelo menos em outras áreas do ambiente hospitalar, o que também causava preocupação. “Estávamos diante de uma doença grave e desconhecida, ainda não havia muita certeza sobre como enfrentá-la. Isso levou o nosso corpo ao máximo por doação aos pacientes. Como profissionais de saúde, essa é nossa missão. O estresse foi grande, abalou bastante”, observa Carla.
Mas, se há um legado positivo da pandemia, é que esse período inusitado ensinou a dar importância ao bem-estar, às relações interpessoais e à saúde física, mental e espiritual. “O risco de contaminação pelo novo coronavírus e a imposição do distanciamento social acabaram sendo um convite para passarmos mais tempo conosco. Principalmente no começo, pessoas que não são profissionais de saúde, que não estavam lá na linha de frente, acabaram ficando no isolamento. Ficar mais tempo sozinho traz um processo de autoconhecimento, força a gente a olhar pra dentro”, diz Carla.

O que fazer x o que não fazer
Esse conjunto de fatores evidenciou a necessidade de descompressão, do autocuidado, de cuidar do outro. Cresceu muito o interesse das pessoas sobre formas de relaxar, de cuidar do bem-estar físico e mental. Deflagrou-se uma onda de bem-estar, com a valorização da família, dos amigos, da casa, dos hobbies, das atividades físicas, da espiritualidade.
Para favorecer o equilíbrio dos pilares do bem-estar e evitar os impactos negativos de um eventual desajuste, Carla recomenda atenção ao estilo de vida, já que os hábitos estão diretamente ligados ao bem-estar, para o bem e para o mal.
Cuidar da alimentação e do estilo de vida, praticar atividade física, ter uma boa qualidade de sono e relacionamentos interpessoais são ações essenciais. Por outro lado, é importante lembrar o que deve ser evitado, como o consumo de álcool, tabaco e drogas, que interferem negativamente na saúde e no bem-estar.
Quase dois anos depois do início da pandemia, a situação é melhor de modo geral, afinal caiu o número de contaminações e de mortes, aumentou o índice de pessoas recuperadas, a vacinação avança e a vida começa a voltar ao normal, com as pessoas do home office retornando ao trabalho presencial, e os estudantes, para a escola. Mas os riscos não desapareceram. A pandemia continua, e crescem os casos na Europa. “Estamos cansados e há muito tempo sob condições de estresse”, diz Carla. Por isso, recomenda, é fundamental cada um se dedicar a cuidar de si e do outro.
Confira as dicas da preparadora física Carla Montenegro

- Busque ter uma alimentação equilibrada e saudável. Por conta da rotina intensa, às vezes, o mais prático acaba sendo a opção. Uma dica para evitar cair nessa armadilha é deixar marmitas caseiras congeladas.
- As práticas de descompressão ou relaxamento são individuais. Cada um deve encontrar alguma atividade de que goste. Não adianta recomendar meditação para quem não curte. Para alguns, o esporte relaxa, para outros, faz bem uma boa leitura, um filme ou cuidar das plantas ou da horta.
- Procure se movimentar durante o dia. Está valendo qualquer atividade física, não precisa ser exatamente frequentar uma academia ou praticar um esporte regularmente. O importante é diminuir o tempo sedentário. Pode ser parar o carro numa vaga mais distante, subir escadas em vez de usar o elevador. Por causa das cirurgias, os anestesiologistas ficam longos períodos sentados. Segundo Carla, o tempo sentado é mais deletério do que não fazer nenhuma atividade física regular. Então, a recomendação é fazer algumas pausas ativas. A cada hora sentado, levantar-se e movimentar-se por dois minutos.
- Não fume e não consuma bebidas alcoólicas em exagero.
- Cuidar da higiene do sono é fundamental para os processos de restauração do corpo, o equilíbrio das células e para a saúde cognitiva. O sono está ligado à capacidade de aprendizado, armazenamento de informações e manejo das emoções. Tem a ver ainda com a produção de hormônios e com a sensação de fome e saciedade. Cada um tem de encontrar o tempo adequado ao seu organismo, mas em geral uma boa noite de sono dura de seis a oito horas. Mas tem pessoas que ficam bem com quatro horas de sono. O ideal é dormir à noite, que é o sono mais reparador, e evitar o uso de telas duas horas antes de ir para a cama, porque a luz azul emitida pelo celular, televisão e computador interfere na produção de melatonina. O melhor é desligar o celular ou deixá-lo no modo noturno ou em outro cômodo para que ele não acenda enquanto você dorme.
- Com os cuidados necessários, com máscara e distanciamento, ter uma boa vida social faz muito bem. Mas é importante reservar também um tempinho pra ficar sozinho e fazer o que gosta ou simplesmente não fazer nada.
