Pela primeira vez, os anestesiologistas brasileiros terão acesso a uma versão oficial em português do Practice Guideline for Management of the Difficult Airway, da American Society os Anesthesiologists (ASA). A SAESP pediu e obteve autorização da ASA para traduzir o documento, que em breve estará disponível no site da entidade para sócios e não sócios.
Essa é a quarta versão do algoritmo e era esperada para 2023, mas o trabalho de revisão foi adiantado em razão da pandemia de covid-19, que tem demandado a realização rotineira de procedimentos de intubação, inclusive por outras especialidades.
“O algoritmo surgiu em 1993 com foco na Anestesiologia. A cada nova versão, ele é aperfeiçoado. Traz um passo a passo tão claro e sólido que pode ser utilizado por outros médicos”, afirma Dr. Maurício Malito, responsável pelo Núcleo de Via Aérea da SAESP.
Segundo ele, os algoritmos mudaram positivamente a prática médica dos anestesiologistas em todo o mundo. “Os algoritmos e os guias para controle da via aérea se mostraram extremamente importantes, porque chamaram a atenção da comunidade médica para os desafios e as dificuldades. De fato, contribuíram para o aumento da segurança dos pacientes, a redução de complicações e a diminuição dos desfechos desfavoráveis”, destaca.
Dr. Maurício explica que o manejo adequado e o controle contínuo da via aérea, pelos profissionais de saúde, são fundamentais para garantir segurança e proteção aos pacientes. Mas existem situações clínicas em que as características físicas e/ou fisiológicas dos pacientes representam dificuldades e desafios para esse controle, podendo ocorrer eventos adversos de gravidade elevada relacionados à falha da ventilação pulmonar e com a instalação de hipoxia.
“O impacto dos fatores fisiológicos ficou muito mais evidente na pandemia de covid-19, quando o médico tem pouco tempo para intubar e ventilar um paciente com hipoxia. Se não tem sucesso na primeira tentativa, o risco aumenta consideravelmente”, observa.
Em evolução constante
Na década de 1990, problemas relacionados a via aérea difícil chamaram a atenção da comunidade médica nos Estados Unidos, porque muitos deles acabavam nos tribunais. Alguns estudos (Closed Clains Analysis – Anesthesiology 72(5):828-833, May 1990) mostraram que 72% desses eventos poderiam ter sido evitados.
Como resposta, a American Society of Anesthesiologists formou uma força-tarefa de especialistas e lançou em 1993 o primeiro Practice Guideline for Management of the Difficult Airway. Desde então, esse algoritmo vem sendo atualizado a cada 10 anos.
Na primeira edição, o destaque foi a definição clara e objetiva do que é via aérea difícil. O guideline apresentava cenários clínicos (via aérea difícil prevista, via aérea difícil não prevista, dificuldade de ventilação e/ou intubação traqueal) e oferecia recomendações e orientações para um atendimento efetivo e lógico dos problemas.
Na versão de 2003, foram mantidas as recomendações anteriores e foi acrescentado o uso da máscara laríngea como dispositivo adicional de segurança. Em 2013, foi enfatizada a recomendação de fazer um exame mais detalhado do paciente e introduzido o uso da videolaringoscopia.
Na edição de 2022, pela primeira vez, o time de experts que atuou na revisão do algoritmo incluiu participantes de outros países, como Inglaterra, Irlanda, Índia, Itália e Suíça. Até então, apenas norte-americanos realizavam esse trabalho. O número de estudos considerados na revisão foi o dobro das atualizações anteriores.
Outras novidades do Guideline 2022 são:

- Novas recomendações para administração de oxigênio suplementar antes, durante e após a manipulação da via aérea.
- Discussão de alternativas para ventilação invasiva e não invasiva nos cenários de via aérea difícil.
- Ênfase da importância de ficar atento à passagem do tempo durante as manobras e de minimizar o número de tentativas com diferentes equipamentos ou técnicas.
- Discussão de forma mais robusta das recomendações para a extubação traqueal e do manejo da via aérea pediátrica.
- Apresentação de novos infográficos que podem ser úteis para consultas rápidas e painéis de orientação.